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EXPOSIÇÃO

O MUNDO NÃO É O BASTANTE

 

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O MUNDO NÃO É O BASTANTE

NIE

Por Alexandre Sá

 

Todo mundo sabe que os ventos que correm por aqui indicam que nem sempre o trabalho como visualidade é suficiente para ser lido como obra de arte. E que entre ser lido e legitimado, há um abismo considerável que eventualmente só será transposto através das construções de pontes e relações pessoais. Não há nenhum mal nisso. Trata-se apenas de um modo particular de operação de um sistema que, considerando sua geografia, ganha tons mais fortes, exigindo certa produção de si em relação ao outro e aos agentes. Desdobrando-se então em mais um eixo exógeno do trabalho em arte.

Tal escancaramento indica, mesmo que de maneira fictícia, um campo da arte que, em sua camada mais superficial, pode ser compreendido como uma operação democrática. E nesta construção surreal de democracia, muitas propostas podem surgir, exigindo do público, outras abordagens de recepção e experiência. O que será feito com tais florescimentos fica a cargo da história. Por outro lado, também cabe alguma cautela na concordância irresponsável daquilo que a arte pode proporcionar como status, capaz de fomentar um elogio da lacração, próximo dos jogadores de futebol e do universo da moda; bolhas de coni-convivência não tão distantes das vernissages e de suas reverberações.

Os trabalhos e as experiências de NIE, aqui expostas, driblam e deambulam entre tais problemáticas: o universo pop da arte e da vida (já comungados) e a dúvida incontornável sobre o estatuto de tais proposições como arte. Mas talvez também sobreviva aqui, fruto de uma certa ingenuidade benéfica ainda não contaminada, uma esperança e um desejo. Uma aposta de que a poética do trabalho, estruturada a partir das experiências vividas e do enamoramento com a cultura visual, tenha o poder de sobreviver à aridez do mundo e obviamente, do próprio sistema de arte.

Talvez exatamente por ainda não estar, ou mesmo, por negar veemente à equalização dos balizadores semânticos de uma prática contemporânea de fundo étnico-conceitual, os trabalhos consigam driblar uma estrutura discursiva já convencional e escapem, inconscientemente, da arte tal como posta à mesa. Trata-se de um conjunto de pensamentos bastante honesto diante do enfrentamento cotidiano, nem sempre tão ameno, com as estruturas de poder que margeiam NIE na realidade, e nos sonhos de sobrevivência.

NIE é um aluno de graduação que, como a maioria, talvez se autodenomine como artista. Tal afirmação, guarda um paradoxo de navalha que merece ser aprofundado. Se por um lado, ser artista hoje em artes visuais depende de infinitas variáveis, ao mesmo tempo, afirmar-se como artista, considerando os trabalhos e a veemência da crença naquilo que pode vir a ser um artista, talvez guarde a redenção, pelo menos até agora, do não enquadramento, da ginga ou de uma manobra simples de skate. De todo modo, o que as imagens aqui reivindicam é, que acima de qualquer coisa, embora o mundo não seja o bastante, ele é e pode ser bem mais arejado que uma parede de museu. Ou pelo menos, em seu próprio imaginário.

 

 

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